Cultura nas veias do Abraão

Por Alba Gil

O evento Ilha Grande Ta Bela comemora seu primeiro aniversário trazendo arte e transformação para a comunidade

Crianças com tinta nas mãos e desenhando que nem grandes pintores, jovens construindo alternativas graças à reciclagem e a comunidade toda se unindo com um objetivo só: se desenvolver através da arte. Uma mistura que demonstra que a vila do Abraão tem mais um nome próprio a incluir na sua lista de eventos culturais, o ‘Ilha Grande Ta Bela’, que realizou este mês sua terceira e maior edição.

Com um total de quatro oficinas, artesanatos, uma roda de capoeira e um show musical, o ‘Ta Bela’ comemorou seu primeiro aniversário de vida com “rotundo êxito”, nas palavras dos seus idealizadores, Marcelo Rasta e Thiago Pereira, dos coletivos Plantou Colheu e Blote. E para conquista-lo, o projeto contou também com uma pintura ao vivo da dupla de artistas urbanos Dínamo, formada por Cety Soledade e Tainan Cabral.

“Queremos estimular o desenvolvimento social através da arte e da prática de esportes”, explica Marcelo Rasta, que acrescenta que o projeto busca “unificar, transformar, abrir novas portas e potencializar a capacidade empreendedora dos moradores”. Thiago enfatiza a necessidade de “estimular ainda mais o potencial de desenvolvimento da região” e lembra que o ‘Ta Bela’ surgiu um ano atrás para comemorar que a comunidade tinha revitalizado a quadra de basquete da vila “sem qualquer ajuda ou contribuição governamental”.

Mas desta vez o evento cresceu e deu um passo à frente. A programação começou na praça da Igreja pela manhã do 13 de outubro com duas atividades paralelas e convidados especiais: alguns dos alunos da Escola Municipal Brigadeiro Nóbrega que, acompanhados pelos professores, deram o pontapé inicial. Por um lado, a “Vivência colorida”, uma oficina de desenho livre e sem pincel que explorou os limites da criatividade. Do outro, a “Tenda da Leitura”, uma biblioteca móvel de bambu construída na hora por pais e professores “especialmente para crianças, pretendendo despertar e estimular o gosto delas pelos livros”, como disse Luis Felipe Costa, o estudante de design que teve a ideia de trazer a tenda para ilha.

À tarde, junto com uma exposição de artesanatos e fotografias, foi o turno da oficina de reuso, aonde grandes e pequenos foram convidados a criar cadernos com materiais recicláveis. Uma iniciativa que, segundo Thiago, procurou “reduzir o impacto ambiental e realocar no mercado materiais descartados”considerados lixo” e, ao mesmo tempo, “ressaltar a importância da comunicação e expressão através de rascunhos, desenhos e palavras”.

Com a chegada da noite foi a vez da capoeira. O grupo local Senzala Mestre Beto fez uma apresentação que incluiu maculelê e colocou o acento no movimento de resistência cultural do evento, sem fins políticos nem lucrativos.

O encargado de fechar o dia foi o show “Marcelo Rasta e convidados”, uma banda composta por moradores do Abraão que fizeram o prelançamento do futuro álbum do organizador. Com Armando Dias na bateria, William Cristianes no teclado e o chileno Rodrigo Chala no baixo, o grupo fez durante mais de duas horas o público curtir, combinando sua música com as performance de outros artistas independentes, como Organica KR e MV Hemp do Comando Selva, Felipe Silva de Monte Zion e Wagner Jamaica.

O forte vento e a ameaça de chuva obrigaram cancelar a programação do sábado, que acabou acolhendo somente a pintura ao vivo da Dínamo, sendo essa umas das atrações principais do evento e a que botou o ponto final nesta edição do ‘Ilha Grande Ta Bela’.

A prestação de contas do evento será publicada na próxima edição deste jornal.

Entrevista com Marcelo Rasta

Idealizador do evento Ilha Grande Ta Bela e fundador de Plantou Colheu, um coletivo que trabalha com audiovisual e entretenimento através de ações culturais

– O que tem de diferente o ‘Ta Bela’ de outros eventos culturais?

A unificação da cultura. Acho que o evento abriu espaço para que qualquer um pudesse participar, como o senhor Clarindo, um caiçara de 75 anos que expôs as suas esculturas de madeira. Também a música autoral do show, que foi composta na ilha e falada só na ilha.

– Estão satisfeitos com o resultado?

Com certeza, foi um rotundo êxito. O tempo chuvoso impediu realizar algumas das atividades que tínhamos planejado e reduziu o número de personas que vieram. Mas mesmo assim, o ‘Ta Bela’ ficou por cima de todas as expetativas.

– Quem possibilitou o evento?

Tudo foi feito graças ao financiamento coletivo e as contribuições de pousadas, hostels e agências da vila. A Secretaria e a Subprefeitura de Cultura de Angra também ajudaram a gente a través da Associação de Moradores do Abraão (AMA), que cederam o espaço. Porém, temos que seguir trabalhando e procurando parcerias, pois o custo real da produção ainda é muito maior que a arrecadação. Se conseguíssemos mais apoios, poderíamos trazer grandes artistas diferenciados e atrair a mais público. Poderíamos fazer um evento maior e em um final de semana qualquer, não em um feriado, como varias pessoas sugeriram.

Leia a edição 222 na íntegra neste link.

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