O músico e ativista Nabby Clifford reflete no Abraão sobre o significado de ser “negro”

“Chamar alguém de negro é fazer bullying”

“Negro quer dizer escravo e aceitar ser chamado assim é abrir a porta para ser humilhado”. Essas incisivas palavras são do músico e ativista Nabby Clifford e foram pronunciadas na Vila do Abraão, no último dia 19 de novembro. E não só essas. “Chamar alguém de negro é fazer bullying”, enfatizou também para a comunidade local. Foi assim como o ‘embaixador do reggae no Brasil’ abriu as atividades da Festa da Consciência Humana, organizada pelo coletivo Plantou Colheu em parceria com o grupo Afro Reggae Homoheyn para resgatar a memória do povo preto.

Nascido em Gana, Clifford chegou ao Brasil em 1983, onde virou um dos nomes mais destacados da cena mundial do reggae. Trinta anos depois e se sentido já “carioca da clara”, o artista lançou um vídeo no Youtube questionando o uso da palavra “negro” para se referir aos afrodescendentes. O vídeo se tornou viral e desde então não parou de dar palestras pelo país todo exigindo uma mudança na linguagem.

“Está na hora de colocar preto no branco. O Brasil tem que parar de chamar as pessoas de negro porque é uma palavra pejorativa que quer dizer escravo e traz consigo uma ofensa, a lembrança de ser atado, arrastado, maltratado”, defendeu. “Uma criança branca nasce livre, enquanto uma negra está condenada pelo nome”, disse. “Imagina crescer ouvindo lista negra, dia negro, magia negra, câmbio negro, mercado negro… aqui quando alguém ganha grana, a grana é preta, mas quando passa fome, é negra. O chocolate ou o café são pretos, mas a peste é negra”.

Por isso, na opinião dele, “não é possível que o Brasil, em pleno século XXI, continue chamando as pessoas de negro”, um termo que foi criado para “coisificar” os povos escravizados. “A raça negra existe somente porque tem alguém que a dominou”, apontou. Segundo ele, “antes dos navios negreiros, os africanos eram pretos”. Aliás, sinalizou, “as primeiras vítimas foram os indígenas”, batizados de “negros da terra”.

A trajetória ativista de Clifford, no entanto, não começou com o vídeo. Já em 2006, o músico foi até a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro para denunciar que “muitos jovens estão na cadeia ou no manicômio por causa da palavra negro”. E lá, como em muitos outros lugares, escutou a voz de quem não concorda com ele. Na verdade, ele acredita que a “culpa” não é do povo que apelida carinhosamente, por exemplo, de “neguinho” e sim dos “estudiosos, da mídia e do Governo”. Por isso não duvida em dizer que “os poderosos” usam a palavra negro “como forma de exercer a violência verbal e diminuir os pretos para que caminhem de cabeça baixa”.

“Ou será que o Governo não viu que negro no dicionário quer dizer maldito?”, questionou para finalizar.

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